“A decisão do sujeito quanto ao que desperta prazer ou dor depende do grau de poder. Uma coisa que, para uma fraca quantidade de poder parece um perigo, que sugere uma rápida defesa, pode produzir – no caso de existir um maior poder, um encanto voluptuoso, um sentimento de prazer (…) e o prazer é: a sensação do aumento de poder”. Nietzsche, Friedrich. A Vontade de Poder, pág. 27.
Mais uma vez, instigado pelas surpresas do cotidiano, permito-me um novo “break” na série de vendas para filosoficamente refletir sobre o poder na liderança.
Mas qual foi o fato do dia a dia que motivou? Sempre gostei de Star Wars, mas minha esposa nunca tinha visto. Eis que maratonamos os 9 filmes na sequência! E a construção dos personagens me fez refletir sobre formação de liderança e a “força”.
Ora, como a liderança se desenvolve? É uma pergunta profunda e não tenho objetivo de esgotar o tema neste momento. Se levarmos em consideração o que Jim Collins categoriza como nível 5 da liderança, temos que o líder constrói a grandeza duradoura mediante uma combinação paradoxal de humildade pessoal e vontade profissional. Em outras palavras, poderíamos descrever esse líder como educador, servidor, espiritual e criativo.
Vejamos cada um desses “poderes”. O primeiro, liderança educadora, é a habilidade do líder para ensinar e treinar potencializando o futuro através da educação e multiplicação de conhecimento. Penso que para educar é necessário uma conscientização enorme do potencial da mente, do corpo e da ação. Com autoconhecimento apurado, a autoconfiança se fortalece e dá, naturalmente, segurança para que o colaborador exerça suas funções com qualidade e eficiência.
Já a liderança servidora funciona como estímulo para os apetites individuais. Trata-se da habilidade de ouvir, de se doar, de genuinamente querer saber mais sobre seu time, gostos, desgostos, dificuldades, desejos, expectativas e, ao mesmo tempo, propor alternativas e iluminar caminhos. Para exercitar esse “poder”, penso que não há outra opção a não ser querer fazer sempre o melhor, sendo exemplo mesmo (cultura walking the talk) para proporcionar segurança e sentimento de pertencimento à organização. O líder precisa entender os desejos de seus funcionários, tratá-los como únicos.
É na liderança servidora que vejo a chave para “fazer a diferença”. Conforme apontou Jim Collins no seu Good to Great:
“level 5 leaders channel their ego needs away from themselves and into the larger goal of building a great company. It’s not that Level 5 leaders have no ego or self-interest. Indeed, they are incredibly ambitious – but their ambition is first and foremost for the institution, not themselves”.
Good to Great, Pág. 21
Por sua vez, a liderança espiritual se baseia em uma espécie de vida interior que alimenta e é alimentada pela realização de trabalho. A compreensão humana que transcende as relações de trabalho é, talvez, um dos engagements mais profundos, focado no espaço interior da consciência do ser no mundo. Interessante, pois os valores pessoais e valores organizacionais que regem os processos de trabalho acabam se misturando e envolvendo sentimentos profundos, de integridade e alegria ou tristeza no viver. Uma liderança espiritual orquestra a inspiração e a energia da empresa. Essa competência desenvolve valores éticos acima de qualquer razão ou emoção.
Por fim, liderança criativa é sair do comum, propor uma experiência única, seja para seu funcionário seja para o cliente. Trabalhar imaginação, inovação e originalidade. Pensar diferente e executar idéias que inspiram e engajam. Interessante que ideias criativas muitas vezes aparecem fora do ambiente do trabalho, distante do problema, quando o equilíbrio entre vida e trabalho confronta-se com algo mágico e misterioso, “na calada da noite”.
Freud apontou a criatividade como resultado (angústia) de um conflito no inconsciente. Da mesma forma que a incompatibilidade entre os instintos do desejo e as necessidades da civilização, podemos afirmar que no ambiente organizacional há incentivos de sobra para que o processo de conflito aconteça e a criatividade seja expressão face às necessidades de mudanças e incertezas que predominam.
Vale lembrar que a criança, quando nasce, é acoplada de uma célula narcísica onde não há distinção entre eu e externo. Por outro lado, a partir do momento que vai recebendo cada vez mais estímulo, começa a querer eliminar qualquer coisa relacionada a dor e desprazer, formando um “eu-prazer”. E aí está o risco de cair no lado negro da força (raiva, angústia, ódio, etc) na busca incessante por poder.
Torcendo pela nova trilogia! E você?